A extinção da TV Carimã e a venda para a RPC

Depois de recuperar a administração da TV Carimã, o Grupo Martinez, aos poucos, voltou a preencher o horário local com atrações originais, algumas novas e outras mais antigas. Para se ter uma ideia, os programas dominicais João Luiz Repórter e Lobo da Estrada já eram produzidos antes do arrendamento à Rede Gospel. E eles não faltaram na última grade da Carimã publicada por O Paraná, em 19 de março de 2000. Exatamente dez dias depois, o jornal supracitado publicou na capa a seguinte manchete:

Sim, é isso mesmo que vocês leram. A programação local da Carimã foi extinta em 29 de março e a emissora foi linkada à CNT, deixando de existir em 1º de abril, quando o canal 10 cascavelense passou a exibir as imagens da TV Cataratas, de Foz do Iguaçu, afiliada à Rede Globo.

André Surugi, diretor-geral da Carimã na época, disse a O Paraná que a CNT vendeu à Globo o direito de transmissão da programação local. A infraestrutura e os equipamentos da Carimã, à época localizados na avenida Barão do Rio Branco, permaneceriam, por algum tempo, nas mãos da CNT, sendo esta estrutura temporariamente emprestada à Rede Paranaense para transmissão da programação local. Isto até a RPC conseguir um prédio próprio.

Quanto aos 20 funcionários, a sede e os equipamentos da Carimã, não se havia um futuro definido. Surugi destacou ainda que a Carimã até poderia ir pro canal 13, que retransmitia a TV Cataratas desde 1989. Na prática, todavia, o canal 13 se tornou uma mera retransmissora da CNT, permanecendo até os dias de hoje no ar (canal 13.1).

O próprio Francisco Cunha Pereira, então CEO da RPC, esteve em Cascavel naquele 29 de março e concedeu explicações a O Paraná, publicadas no dia seguinte, 30 de março de 2000. Cunha Pereira estava acompanhado do gerente-geral designado para o canal 10, Orlando Fonseca, e do superintendente de engenharia da RPC, o engenheiro Sérgio Jacomino, e disse que, nos dois anos que se seguiriam, investiria R$ 7 milhões no canal 10 pra que se instalasse a futura TV Oeste, hoje RPC Cascavel, no Edifício Felipe Adura, no Centro da cidade, onde a RPC já possuía algumas salas.

A TV Oeste iniciou suas atividades em 2000 mesmo, já produzindo blocos locais para o Paraná TV. Hoje, a RPC Cascavel se contenta apenas com a edição local do Meio-Dia Paraná e algumas poucas reportagens em rede estadual, fazendo esquecer aqueles tempos em que o velho canal 10 competia de igual pra igual com a TV Tarobá, a qual permanece até hoje no ar.

TV Carimã: a conturbada passagem pela Rede Gospel

Em 18 de setembro de 1997, a Rede Gospel de Comunicação, propriedade da Igreja Renascer em Cristo (aquela do casal de bispos Estevam e Sônia Hernandes), resolveu que queria dilapidar alguma emissora no interior do Brasil. E escolheram justamente a TV Carimã, canal 10 de Cascavel, Oeste do Paraná, para iniciar seu sórdido plano de dilapidação da emissora, que já contou com mais de 180 funcionários nos tempos áureos.

A programação local da Carimã vinha de vento em popa, embalada pelas novelas da Televisa que davam as caras na emissora desde fevereiro daquele ano. Porém, para a Rede Gospel, isso não era interessante. Por isso, naquela quinta-feira, os novos donos começaram, aos poucos, a extinguir os programas locais e incutir nos horários outorgados pela CNT aos seus afiliados as suas próprias atrações, assumindo o nome TV Gospel de Cascavel em meados de dezembro de 1997. Para que se tenha uma ideia, em 04 de janeiro de 1998, a grade era a seguinte:

06h15 - Padrão Técnico

06h35 - Espaço Renascer *

07h05 - Escola de Profetas *

07h35 - Happy Day *

07h50 - Culto da Família *

08h30 - Viva o Show *

11h30 - De Bem Com a Vida *

12h00 - Mesa Redonda

12h30 - Cidade Aberta

14h00 - De Bem Com a Vida * (de novo)

14h30 - Mulheres

17h00 - Chespirito

18h00 - Clip Gospel *

18h30 - 190 Urgente

19h30 - CNT Jornal

20h00 - De Bem Com a Vida * (mais uma vez)

20h30 - Clip Gospel * (de novo)

21h00 - Escola de Profetas * (outra vez)

21h25 - CNT Esporte

21h30 - Sessão Especial

23h40 - Juca Kfouri

01h00 - Feiras e Negócios

01h10 - Clip Gospel * (mais uma vez)

02h10 - Espaço Renascer 1 *

02h40 - Espaço Renascer 2 *

03h10 - Encerramento

Perceberam os asteriscos? Até no horário nobre a Rede Gospel tinha suas atrações, muitas delas ou repetidas ou em edições diferentes.

Porém, chegou uma hora que a paciência dos Martinez acabou. O contrato de arrendamento da Carimã pela Rede Gospel foi parcelado (como tudo neste país) e previa o pagamento da primeira parcela para 15 de março de 1998. Adivinhem… eles não pagaram! Como se isso não bastasse, a Carimã tinha apenas 10 funcionários e programas locais terceirizados. Então, os Martinez entraram na justiça e, em 03 de abril, a matéria de cabeceira de O Paraná naquele dia foi esta:

Eu não interpreto isto como uma perda pra Rede Gospel, mas como um livramento pra CNT. Afinal, quem saiu perdendo nesse contrato foi o Grupo Martinez, cuja administração da Carimã foi recuperada através de uma reintegração de posse executada em 02 de abril de 1998, concedida pelo juiz da 2ª Vara Cível da Comarca de Cascavel, Sr. Paulo Roberto Hapner. O oficial de justiça que cumpriu a decisão do Sr. Hapner estava acompanhado de dois “fieis depositários” da Carimã, Sirso Damazi, chefe de operações da CNT, e Jair dos Santos, do setor administrativo da emissora.

O diretor financeiro da CNT na época era Jairo Cajal, que fora diretor-geral da Carimã até 1996. Na matéria, Cajal informou a O Paraná que, desde 02 de abril, a Carimã estava apenas retransmitindo as imagens da CNT, já que a emissora mesmo estava de portões fechados. Os programas locais, como Cidade Aberta, por exemplo, estavam suspensos até segunda ordem. Cajal retornou a Cascavel no fim de semana seguinte apenas para fazer um levantamento da situação da Carimã, desde o patrimônio da empresa até outras pendências e compromissos, levando depois o relatório à direção da CNT.

Cajal ainda afirmou na matéria que a Carimã voltaria a ter uma grade local e/ou regional, com telejornais locais, inclusive. Já sobre os programas da Rede Gospel, a CNT avaliaria o retorno financeiro, a audiência e a linha de atuação de cada um, bem como conversaria com os clientes da Carimã e as lideranças da sociedade, pra só depois saber o que poderia ser reaproveitado na grade da Carimã. Somente um programa estava 100% garantido na grade: o Mercado Livre, comandado por Amir Kalil, apresentado aos domingos e que foi um dos poucos que permaneceram na programação da Carimã até a extinção da emissora, sobre a qual falaremos em outro artigo.